sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Terrible twos: vontades e humores

Muito se fala sobre os terríveis dois, idade em que a criança começa a se descobrir como indivíduo, com desejos próprios. É a fase do não, dos chiliques para trocar de roupa, das birras para comer, dos acessos de raiva quando não é atendido na hora, da gritaria no meio do shopping. Cada criança tem sua forma de demonstrar o que quer, algumas mais fortes que outras. Lá em casa, os terrible twos se resumem a duas condições principais: vontades e humores.

Sim, como toda a criança, a Marina tem muitas vontades. Vontade de usar uma roupa em vez de outra, de comer isso em vez daquilo, de brincar com esse brinquedo, e não com o outro, e por aí vai. Pode parecer fraqueza da minha parte, mas, sempre que possível, tento atender o que ela quer. Afinal, porque ela precisa vestir a blusa verde se, na verdade, quer usar a azul? Só por que não combina? Eu aviso que não combina, mas se, ainda assim ela quer a verde, vai de verde, ué? Quer ir para a escola de sapato de festa? Mas filha, esse sapato é de festa. Mas eu quero! Então vai. Quer ir de pijama de princesa? Aí não pode, porque pijama só pode usar em casa, para ficar bem limpinho na hora de dormir!

Isso é só um exemplo, mas podemos aplicá-lo a várias situações diferentes. Quer brincar de boneca, em vez do brinquedo que eu separei? Vai lá! Não quer levar o brinquedo que a vovó deu para ela ver como você gostou? Não leva. Quer brincar com a faca? Aí não pode, porque é perigoso e machuca!

Na parte das vontades, acrescento também o "não". Nessa idade, a palavra mágica não é por favor, nem obrigado. É "não"! Outro dia, fui buscar a Marina no colégio. No carro, fui tentar conversar com ela. Fiz várias perguntas:
- Como foi o seu dia hoje?
- Foi tudo bem.
- Você foi na aula de natação?
- Não é aula de natação, é natação!
- Você foi na natação?
- Não!
- Brincou de massinha?
- Não.
- Brincou de lego?
- Não.
- Quer ir para a casa?
- Não.
- Quer ficar no carro?
- Não?
(Agora a pergunta infalível!)
- Quer pão de queijo?
- Não.
- Tudo bem, então não vamos comer pão de queijo.

E aí, pronto, vem os humores como consequência disso tudo, de todas essas vontades. E ela começa a chorar, pedindo pão de queijo, dizendo que quer pão de queijo. E não adianta racionalizar, dizer que ela acabou de dizer que não queria. O choro não para, não é proposital, não é pensado. Parece uma reação quase involuntária, mais forte que ela, que ela não consegue e não sabe como controlar.

Às vezes, quando digo que não pode brincar com a faca, ela larga a faca e pronto. Já outras vezes, dá um ataque, chora, se joga no chão. O mesmo quando tem que trocar de roupa. De novo, não adianta se desdobrar em explicações mirabolantes, o que não significa que eu não explique. Até explico por que não pode, mas essa explicação serve mais para mim do que para ela, para eu me acalmar, falar com a voz tranquila e passar essa sensação para ela mais através da minha postura do que das minhas palavras.

Mas, como nem tudo são flores, infelizmente não consigo me manter tão calma e pacífica todas as vezes, não dá para manter um comportamento 100% estável e uniforme em todas as várias situações que ocorrem num único dia. Às vezes, largo ela chorando lá para ver se acalma. Normalmente não acalma. O que resolve mesmo é uma chupeta, um abraço, um colo. Então é isso que eu faço. E vou aprendendo, né?!


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